JANEIRO DE 1971
UMA RAJADA DA JANELA DA COZINHA DE CASA
Deixaríamos a casa, pois era conhecida dos companheiros, que tinham sido capturados naquela semana. Na mesma manhã, enviei minha companheira e filhos para a casa de sua irmã em Mongaguá. Ela era casada com o velho camarada José Alves Portela dos tempos da ULTAB/FATAESP, de Presidente Epitácio. Quando assumi a direção da Ala Vermelha, convidei Portela para me acompanhar, mas ele não aceitou. Preferiu permanecer na clandestinidade, acompanhando nossa luta, pois tinha críticas a como estava sendo executada.
Com minha companheira e filhos seguiram Nobue Ishii, a - Nina ou Marta - que recentemente havia sido resgatada, quando estava internada na Santa Casa de São Paulo, em coma pelas torturas sofridas nas mãos da equipe do facínora Sérgio Paranhos Fleury, do DEOPS. O resgate, bem sucedido, foi uma ação comandada por Élio Cabral. Minha companheira levava uma maleta com dólares de caixa da Ala Vermelha, especial para ser usado nessas ocasiões e que nos haviam sido repassados por companheiros da VAR-PALMARES.
Também foram com elas, minha outra cunhada Esmênia, que na juventude tinha sido tesoureira do Partido em São José do Rio Preto e nessa época também morava em Mongaguá, com suas duas filhas.
ENFRENTAMENTO RESISTENTE
A RAJADA
Élio já havia saído de casa, estava quase na esquina e retornou para combinarmos onde iríamos nos encontrar depois. Eu estava no portão e voltei para dentro. Entramos na casa.
Foi montada uma verdadeira operação de guerra.
A casa tinha um alpendre cercado de vidros, que dava para a porta da sala e um corredor, que ia até o quintal dos fundos. Passava pela porta da cozinha e do lado tinha um muro, do outro lado um depósito de ferro velho, do vizinho dos fundos.
Ao chegarem, entraram pela frente, quebrando os vidros das portas do alpendre. Outros vieram pelo ferro velho, saltaram o muro, invadiram o quintal e chegaram à porta da cozinha tentando arrombá-la. Ainda deu tempo, para queimarmos alguns papéis com anotações.
As portas resistiam. Disparei alguns tiros de uma metralhadora Thompson, que tínhamos. Eles se afastaram e revidaram atirando.
UMA RAJADA DA JANELA DA COZINHA DE CASA
FRENTE DA CASA ONDE RESISTIRAM E FORAM CAPTURADOS OS DIRIGENTES DA ALA VERMELHA, EDGARD DE ALMEIDA MARTINS E ÉLIO CABRAL DE SOUZA, DEPOIS DE UMA TROCA DE TIROS COM OS AGENTES DA OBAN. A CASA TEVE A FRENTE ALTERADA E O NÚMERO MUDADO DE 100 PARA 94, NA RUA AGUAPEÍ, NO TATUAPÉ, ZONA LESTE DE SÃO PAULO.
No início do mês de Janeiro de 1971, Élio Cabral conseguiu evadir-se de um "arrastão" - cerco feito pelos homens da repressão nas ruas de São Paulo - próximo do Viaduto Alcântara Machado caminho da Zona Leste da cidade. Élio abandonou o fusca bege, 1967, conseguindo sair, mas nele foram apreendidos documentos, panfletos, placas e armas, que levaram à uma rápida sequência de de quedas - prisões - militantes e dirigentes da Ala VermelhaDeixaríamos a casa, pois era conhecida dos companheiros, que tinham sido capturados naquela semana. Na mesma manhã, enviei minha companheira e filhos para a casa de sua irmã em Mongaguá. Ela era casada com o velho camarada José Alves Portela dos tempos da ULTAB/FATAESP, de Presidente Epitácio. Quando assumi a direção da Ala Vermelha, convidei Portela para me acompanhar, mas ele não aceitou. Preferiu permanecer na clandestinidade, acompanhando nossa luta, pois tinha críticas a como estava sendo executada.
Com minha companheira e filhos seguiram Nobue Ishii, a - Nina ou Marta - que recentemente havia sido resgatada, quando estava internada na Santa Casa de São Paulo, em coma pelas torturas sofridas nas mãos da equipe do facínora Sérgio Paranhos Fleury, do DEOPS. O resgate, bem sucedido, foi uma ação comandada por Élio Cabral. Minha companheira levava uma maleta com dólares de caixa da Ala Vermelha, especial para ser usado nessas ocasiões e que nos haviam sido repassados por companheiros da VAR-PALMARES.
Também foram com elas, minha outra cunhada Esmênia, que na juventude tinha sido tesoureira do Partido em São José do Rio Preto e nessa época também morava em Mongaguá, com suas duas filhas.
ENFRENTAMENTO RESISTENTE
A RAJADA
Élio já havia saído de casa, estava quase na esquina e retornou para combinarmos onde iríamos nos encontrar depois. Eu estava no portão e voltei para dentro. Entramos na casa.
Foi montada uma verdadeira operação de guerra.
A casa tinha um alpendre cercado de vidros, que dava para a porta da sala e um corredor, que ia até o quintal dos fundos. Passava pela porta da cozinha e do lado tinha um muro, do outro lado um depósito de ferro velho, do vizinho dos fundos.
Ao chegarem, entraram pela frente, quebrando os vidros das portas do alpendre. Outros vieram pelo ferro velho, saltaram o muro, invadiram o quintal e chegaram à porta da cozinha tentando arrombá-la. Ainda deu tempo, para queimarmos alguns papéis com anotações.
As portas resistiam. Disparei alguns tiros de uma metralhadora Thompson, que tínhamos. Eles se afastaram e revidaram atirando.
CRUZAMENTO DE ONDE SE AVISTAVA O VITRÔ QUEBRADO DA JANELA. SENHA PARA COMPANHEIROS NÃO SE APROXIMAREM DA CASA ONDE ERA NOSSO "APARELHO"
Atirei em vidro da janela, que dava para ser visto da esquina da rua Aguapeí com a Apucarana.O vitrô quebrado, era uma "senha" combinada com outro dirigente da Ala - Rodrigo - que chegaria do RJ, naquele dia. Se quebrada ele avistaria e não aproximaria da casa. Foi o que aconteceu.
Abaixei-me sob a pia. Élio permaneceu imóvel no centro da cozinha. Chovia bala dentro da casa. Pelas paredes, janelas e depois do alto. Já estavam sobre o telhado.
A RENDIÇÃO
Pensei nos meus filhos. Troquei algumas palavras com Élio. Acenei pela janela da cozinha com um pano de prato branco. Cessaram os tiros. Fui ao quarto e coloquei a metralhadora debaixo do colchão da cama.
O chefe da equipe, depois soube seu codinome - Dr. Aldo - gritou : - Vocês estão cercados, não há nenhuma chance, se entregando eu garanto a integridade física e a vida de vocês.Nos rendemos.
Abrimos a porta e o chefe da equipe deles estava à nossa frente, saímos e fomos rapidamente cercados por vários homens ameaçando nos agredir e impedidos pelo tal "Dr. Aldo".
Élio ainda gritou para a vizinhança , que se apinhava para ver o que estava acontecendo, ouvir: -
Nós não somos terroristas, somos lutadores contra a ditadura fascista no poder.
Foram testemunhas, os companheiros da Ala Vermelha, Paulo de Tarso Gianini e Felipe José Lindoso, que tinham sido capturados alguns dias antes e ali desfigurados com evidentes marcas de torturas.
Nos algemaram e nos levaram em carros separados. O comboio saiu em disparada para a rua Tutóia.
Ali conheceria o - inferno - como dizia Dirceu Gravina, codinome - JC, Jesus Cristo - nas torturas e os outros torturadores, todos sob o comando do major Carlos Alberto Brilhante Ustra, o " Dr.Tibiriçá" a serviço do CIE - Centro de Informação do Exército, órgão do SNI - Serviço Nacional de Informação e subordinado ao Comando do II Exército em São Paulo, todos orientados pela CIA - Central de Inteligência Americana.
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