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sábado, 11 de agosto de 2012

'DAQUI SÓ HÁ DUAS SAÍDAS: OU PARA LIBERDADE OU PARA O PARAÍSO..."


"PONTO E CONTATO"
     "DAQUI SÓ HÁ DUAS SAÍDAS : OU PARA LIBERDADE OU PARA O PARAÍSO"...
              No início, os interrogatórios se dirigiam à esse objetivo : Queriam saber "pontos", horários de encontro - inclusive os que não existiam e eu não os tinha - queriam "ponto" com "Henrique". Eu nem sabia, que Devanir usava esse codinome. Queriam saber da Nobue Ishii - Nina ou Marta - Queriam a ligação com o Rio de Janeiro. Os nomes das pessoas de Porto Alegre e Santa Maria.Queriam saber onde estavam minha companheira, meus filhos, que sabiam ser um casal.
              Ameaçavam prender meu pai, octogenário.
              Intercederam por mim no comando do II Exército: o cel. Gualter Ferreira, que já me conhecia do Mato Grosso e meu cunhado, sargento da PM - Teizen, que chegou a ir à sede do DOI CODI, a meu chamado acompanhando minha irmã caçula Shirley. Consegui, que lhe enviassem uma carta para que minha companheira e meus filhos se apresentassem lá. O que ocorreu mais ou menos um mês depois e de outra forma.
              Suspenderam as torturas físicas em mim, mas fui mantido ali. Me levaram até o Mato Grosso, em Cáceres, dizendo que iriam prender um companheiro que estivera comigo na China em 1966. Paramos no quartel em Campo Grande. Fomos até Fátima do Sul, onde segundo eles se encontravam o companheiro procurado. Não encontraram ninguém. Voltamos à Campo Grande onde me deixaram, enquanto foram à Dourados onde prenderam cinco pessoas, que eu não os conhecia e deixaram-nas, no quartel de Campo Grande.
 
CARTA INTERCEPTADA NO CORREIO PELOS AGENTES DO DOI CODI ENVIADA DE                     VITÓRIA À SÃO PAULO PARA A DIREÇÃO DA ALA VERMELHA
                   CARTA INTERCEPTADA
                 No fim de Março de 1971, um companheiro de Vitória, escreveu uma carta para mim, que foi interceptada pelos agentes do DOI -CODI. Essa carta deu à eles informações sobre o pessoal de Vitória. Fui acareado com Amorim, o autor da carta. Levaram-me à Vitória no Espírito Santo. Me deixaram preso no quartel de Vila Velha. Lá prenderam sete companheiros e os trouxeram ao DOI-CODI de São Paulo.
               Através do grupo de Vitória foi feita a ligação com o MRM - Movimento Revolucionário Marxista - dirigido por Fernando Sana Pinto, que estava atuando com o grupo de Devanir Carvalho. Dessa sequência de quedas, chegaram até o MRT - Movimento Revolucionário Tiradentes - montando a emboscada para a qual atraíram Devanir, onde ele acabou sendo assassinado pela equipe do DEOPS de Fleury, em São Paulo.                                          
          VIGILÂNCIA NA ALTA ARARAQUARENSE 
               Desde a prisão de Tarzan de Castro em 1966, a região de São José do Rio Preto e Votuporanga,  ficou sob vigilância constante dos agentes do DEOPS, DOI CODI e com a polícia local colaborando. Em uma correlação de forças desiguais. Waldemar Andreu já vinha sendo perseguido por manter ligações com Dimas e Dênis Casemiro, que fizeram parte da Ala Vermelha e passaram para o MRT. 
              Já  fazia pelo menos um ano, que eu não tinha contato com Waldemar Andreu, nem com Devanir Carvalho. Sabia da ações do MRT pelos jornais e a última vez nos vimos, foi no início de 1970 em um ponto de rua. Na mesma época, o mesmo com o Raimundo Gonçalves "Mauro", no RJ, a última vez, que nos encontramos.
            
DESTAQUES DO DEPOIMENTO DE   EDGARD DE ALMEIDA MARTINS                                   NO INTERROGATÓRIO DE 31/01/1971, NO DOI-CODI/SP:
 
                Ao ser detido e sofrendo os suplícios impingidos aos presos nos interrogatórios do DOI-CODI, não passei nenhuma informação, que levasse os agentes da repressão até meus companheiros.Nada disse, que eles já não soubessem.
                Quando na tortura vi explodir a úlcera de Élio e o sangue jorrando, foi eu, quem negociei diretamente com o comando do DOI-CODI, a entrega de parte dos dólares, que havíamos recebidos de companheiros da VAR-PALMARES e estava com a Ala Vermelha.Uma parte estava "aplicada" em uma agência de turismo  - Transiter - no centro de São Paulo. Foi apreendida pelos agentes do DOI-CODI,  que ficaram com eles. Outra parte, estava com minha companheira e Nobue Ishii, que  deve  ter os utilizado para sair do país. Assim, nenhum dos dirigentes da Ala Vermelha foi morto no DOI-CODI. Como em um assalto : Era "a bolsa" ou a vida...
                   Eu tinha "pontos" marcados" com Tarzan de Castro em São Paulo - foi preso um mês depois de mim, em Recife - com alguns padres do nordeste, através de Gerôncio Albuquerque - não foi preso - e com Honestino Guimarães, que só foi capturado em 1973, quando eu já tinha sido liberado do DOI-CODI.
                  "LIBERDADE OU PARAÍSO..."
          Nos  intermináveis interrogatórios, afirmavam, que eu não sairia vivo ao final do "tratamento" que me aplicariam.
               Concentravam-se numa organização para desmantelar sua estrutura, buscando atingir seu núcleo dirigente, eliminado-o com prisões, torturas e assassinatos.
               Foi o que fizeram com todas organizações, que lutavam com os trabalhadores pela democracia e pelo socialismo.
              Não fui entregue à polícia de nenhum estado, nem em São Paulo, como os outros companheiros. Fiquei sempre sob custódia do Exército, em todos os locais que estive.
              Os torturadores do DOI-CODI, me diziam apontando para os bairros com os respectivos nomes: - Daqui - Rua Tutóia- só há duas saídas: para a Liberdade ou para o Paraíso.
                                                                                                                                        

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