"PONTO E CONTATO"
"DAQUI SÓ HÁ DUAS SAÍDAS : OU PARA A LIBERDADE OU PARA O PARAÍSO"...
No início, os interrogatórios se dirigiam à esse objetivo : Queriam saber "pontos", horários de encontro - inclusive os que não existiam e eu não os tinha - queriam "ponto" com "Henrique". Eu nem sabia, que Devanir usava esse codinome. Queriam saber da Nobue Ishii - Nina ou Marta - Queriam a ligação com o Rio de Janeiro. Os nomes das pessoas de Porto Alegre e Santa Maria.Queriam saber onde estavam minha companheira, meus filhos, que sabiam ser um casal.
Ameaçavam prender meu pai, octogenário.
Intercederam por mim no comando do II Exército: o cel. Gualter Ferreira, que já me conhecia do Mato Grosso e meu cunhado, sargento da PM - Teizen, que chegou a ir à sede do DOI CODI, a meu chamado acompanhando minha irmã caçula Shirley. Consegui, que lhe enviassem uma carta para que minha companheira e meus filhos se apresentassem lá. O que ocorreu mais ou menos um mês depois e de outra forma.
CARTA INTERCEPTADA NO CORREIO PELOS AGENTES DO DOI CODI ENVIADA DE VITÓRIA À SÃO PAULO PARA A DIREÇÃO DA ALA VERMELHA
CARTA INTERCEPTADA
No fim de Março de 1971, um companheiro de Vitória, escreveu uma carta para mim, que foi interceptada pelos agentes do DOI -CODI. Essa carta deu à eles informações sobre o pessoal de Vitória. Fui acareado com Amorim, o autor da carta. Levaram-me à Vitória no Espírito Santo. Me deixaram preso no quartel de Vila Velha. Lá prenderam sete companheiros e os trouxeram ao DOI-CODI de São Paulo.
Através do grupo de Vitória foi feita a ligação com o MRM - Movimento Revolucionário Marxista - dirigido por Fernando Sana Pinto, que estava atuando com o grupo de Devanir Carvalho. Dessa sequência de quedas, chegaram até o MRT - Movimento Revolucionário Tiradentes - montando a emboscada para a qual atraíram Devanir, onde ele acabou sendo assassinado pela equipe do DEOPS de Fleury, em São Paulo.
VIGILÂNCIA NA ALTA ARARAQUARENSE
Desde a prisão de Tarzan de Castro em 1966, a região de São José do Rio Preto e Votuporanga, ficou sob vigilância constante dos agentes do DEOPS, DOI CODI e com a polícia local colaborando. Em uma correlação de forças desiguais. Waldemar Andreu já vinha sendo perseguido por manter ligações com Dimas e Dênis Casemiro, que fizeram parte da Ala Vermelha e passaram para o MRT.
Já fazia pelo menos um ano, que eu não tinha contato com Waldemar Andreu, nem com Devanir Carvalho. Sabia da ações do MRT pelos jornais e a última vez nos vimos, foi no início de 1970 em um ponto de rua. Na mesma época, o mesmo com o Raimundo Gonçalves "Mauro", no RJ, a última vez, que nos encontramos.
DESTAQUES DO DEPOIMENTO DE EDGARD DE ALMEIDA MARTINS NO INTERROGATÓRIO DE 31/01/1971, NO DOI-CODI/SP:
Ao ser detido e sofrendo os suplícios impingidos aos presos nos interrogatórios do DOI-CODI, não passei nenhuma informação, que levasse os agentes da repressão até meus companheiros.Nada disse, que eles já não soubessem.
Quando na tortura vi explodir a úlcera de Élio e o sangue jorrando, foi eu, quem negociei diretamente com o comando do DOI-CODI, a entrega de parte dos dólares, que havíamos recebidos de companheiros da VAR-PALMARES e estava com a Ala Vermelha.Uma parte estava "aplicada" em uma agência de turismo - Transiter - no centro de São Paulo. Foi apreendida pelos agentes do DOI-CODI, que ficaram com eles. Outra parte, estava com minha companheira e Nobue Ishii, que deve ter os utilizado para sair do país. Assim, nenhum dos dirigentes da Ala Vermelha foi morto no DOI-CODI. Como em um assalto : Era "a bolsa" ou a vida...
Eu tinha "pontos" marcados" com Tarzan de Castro em São Paulo - foi preso um mês depois de mim, em Recife - com alguns padres do nordeste, através de Gerôncio Albuquerque - não foi preso - e com Honestino Guimarães, que só foi capturado em 1973, quando eu já tinha sido liberado do DOI-CODI.
"LIBERDADE OU PARAÍSO..."
Nos intermináveis interrogatórios, afirmavam, que eu não sairia vivo ao final do "tratamento" que me aplicariam.
Concentravam-se numa organização para desmantelar sua estrutura, buscando atingir seu núcleo dirigente, eliminado-o com prisões, torturas e assassinatos.
Foi o que fizeram com todas organizações, que lutavam com os trabalhadores pela democracia e pelo socialismo.
Não fui entregue à polícia de nenhum estado, nem em São Paulo, como os outros companheiros. Fiquei sempre sob custódia do Exército, em todos os locais que estive.
Os torturadores do DOI-CODI, me diziam apontando para os bairros com os respectivos nomes: - Daqui - Rua Tutóia- só há duas saídas: para a Liberdade ou para o Paraíso.
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