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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ACUSAÇÕES

                              POLÊMICA : A HISTÓRIA EM DISPUTA
                CITAÇÕES E ACUSAÇÕES
'OS HOMENS FAZEM SUA PRÓPRIA HISTÓRIA, MAS NÃO A FAZEM SOB CIRCUNSTÂNCIAS DE SUA ESCOLHA E SIM AQUELAS COM QUEM SE DEFRONTAM DIRETAMENTE, LEGADOS E TRANSMITIDAS PELO PASSADO."  KARL MARX.
       INFORMAÇÃO & CONTRA-INFORMAÇÃO
 
          DESDE O PROCESSO DA ALA VERMELHA NO STM  DE SP,  EM 1972, QUE EDGARD DE ALMEIDA MARTINS FOI RETIRADO,  MAS PERMANECEU PRISIONEIRO DO ALTO COMANDO DO II EXÉRCITO E DO DOI-CODI COMO PODE SER CONFIRMADO NOS DOCUMENTOS DA DÉCADA DE 70, APRESENTADOS NESTE BLOG , NA SECÇÃO -"VIGIADO NO TRABALHO",
                    A INFORMAÇÃO DISSEMINADA PELOS ÓRGÃOS DE INFORMAÇÃO PASSOU A SER REPETIDA, SEM NENHUMA  APURAÇÃO, CONFIRMANDO A MÁXIMA NAZISTA GOEBELLIANA: "UMA MENTIRA MIL VEZES REPETIDA TORNA-SE VERDADE". PRINCIPALMENTE, QUANDO É NEGADA A DIALÉTICA BÁSICA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO DEMOCRÁTICA E NÃO FOI-LHE DADO O DIREITO DE APRESENTAR O CONTRADITÓRIO, IGNORANDO FATOS REAIS APRESENTADOS E RESTRINGINDO-SE A VERSÃO INTERPRETADA DO HISTORIADOR  E JORNALISTA JACOB GORENDER  EX-COMBATENTE, QUE DEPOIS ABANDONOU, INCLUSIVE O MARXIMO COMO PODE-SE DEPREENDER DA LEITURA DE SUA OBRA POSTERIOR .PARA ACESSAR O TEXTO DO NÚCLEO DE PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA POLÍTICA, CLIQUE AQUI. ESTÁ NA -COMBASECÇÃO - MURAL DE RECADOS - LOGO ACIMA NA PÁGINA. 
JURACY, O BISNETO ABNER E EDGARD - ÚLTIMA FOTO JUNTOS, EM 2004.
    
"PORQUE UM HOMEM QUE LUTA PELOS INTERESSES DOS TRABALHADORES É BEM DIGNO DE RECEBER O NOME DE COMUNISTA"
EDGARD DE ALMEIDA MARTINS NO COMÍCIO DE ENCERRAMENTO DO "LEVANTE DE TUPÃ" EM 10/07/1949
 
 

APOSENTADO NA LUTA

                                DE VOLTA À ORIGEM
                 AAPOSENTADO NA LUTA!
 
EDGARD, JURACY E OS NETOS KILHA E IVAN, EM TUPÃ
          Tendo perdido parte da visão - cansada - por glaucoma nos dois olhos, o que dificulta minha movimentação e atividades, fui "encostado" no INSS, em 1989.
          Depois de nascidos meus netos Ivan e Kilha na década de 80, mudei-me para Tupã.
          Aposentei-me por invalidez permanente, em 1991.
DISCURSANDO CONTRA A GUERRA DO IRAQUE  NO PARQUE DA ACLIMAÇÃO EM 2002
          Participei de encontros e comícios em Marília, Dracena, Pacaembú e Presidente Prudente. Fui eleito delegado da macro região na Convenção Estadual.
           Apoiei o MST - Movimento Sem Terra, em Getulina, quando ocupou a Fazenda Jangada. Estive lá três vezes, levando mantimentos, remédios e roupas. Colaborei nas campanhas de Lula, de Ernesto Gradella para deputado federal e Mauro Puerro na campanha - trabalhador vota em trabalhador - no Estado de SP. O PT local apoiou Erundina, Mercadante, José Dirceu e Marta Suplicy. Encontrei-me com Hélio Bicudo quando esteve em Tupã, para discutirmos políticas de direitos humanos, na casa do prof. Anchieta, companheiro-presidente do PT local.
           Sou da  diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos da Alta Paulista e da Associação dos Aposentados de Tupã.
          Em fevereiro de 2004, nasceu meu bisneto Abner. 
 
SEGURANDO O BISNETO ABNER EM 2004
  
"MESMO ESPERO PELAS MUDANÇAS EM FAVOR DO POVO PELO QUAL DEDICAMOS TODA NOSSA VIDA".
 

SOBREVIVENTE DO EXTERMÍNIO

                        GUERRILHA CULTURAL
              SOBREVIVENTE DO EXTERMÍNIO
 
30/07/1973 - SEGUNDO INFORMAÇÃO Nº 1731/73 DO II EXÉRCITO É MEMBRO DA ALA VERMELHA DO PCB E TERRORISTA COM CURSO NA CHINA. NOMES FRIOS DE ANTONIO DE BIASI, ANÍSIO DOS SANTOS SILVEIRA E PAULO ARMANDO DUARTE. CODINOMES : CID, GUSTAVO,MATHIAS, MILTON, MIRO,RENATO E SÉRGIO. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SP. 
   
 DOCUMENTO DE 30/07/1975 - DADOS SOLICITADOS: QUAISQUER INFORMAÇÕES QUE CONDUZAM À LOCALIZAÇÃO E PRISÃO DO INTERESSADO.FONTE; ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SP.
              Derrotada, a luta armada passou a ser ideológica e cultural. Mudaram-se as armas.Saí da oficina e passei a trabalhar como zelador e porteiro de edifícios.
              Mudei-me para Porto Alegre, onde passei do fim de 1978 até 1980.
              A classe trabalhadora voltava a se recompor, com as greves do ABC tomando à frente das lutas e um novo proletariado urbano despontando com novas direções. E, o movimento estudantil com outras práticas e políticas de mobilização de massas. 
"NAS DECLARAÇÕES DE BEATRIZ FORJAZ GIANINI, DATADA DE 21/11/1978, CONSTA QUE A DEPOENTE RECONHECEU O MARGINADO ATRAVÉS DE FOTO EXIBIDA DO ÁLBUM DA ALA VERMELHA DO PC DO B". FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SP. 
            Retornando à São Paulo, em 1980, fui "visitado" por agentes do DOI-CODI, no meu local de trabalho, pela última vez. A partir daí, não me aborreceram mais.
 
INFORMAÇÃO nº 06/78-DSS...SÃO PAULO, 02 DE JANEIRO DE 1978. FONTE; ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SP
         Voltava a participar o movimento sindical e as massas nas "diretas-já", prenunciando a derrocada da ditadura  de 64.
 
INFORMAÇÃO DO DEOPS DE 14 DE FEVEREIRO DE 1979, QUE NESTA DATA, DERLY JOSÉ DE CARVALHO, VULGO "RUI E ANTONIO", PRESTOU INTERROGATÓRIO, AFIRMANDO QUE EM  1966 VIAJOU PARA CHINA JUNTAMENTE COM EDGARD DE ALMEIDA MARTINS, VULGO "ZECA", QUE EM PEQUIM REALIZOU CURSO DE CAPACITAÇÃO POLÍTICA.
         Os que sobreviveram ao Terror do Estado de 1964 à 1989, foram o PC do B , PCB e as outras organizações migraram para o Partido dos Trabalhadores de Lula e José Dirceu.
 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

VIGIADO NO TRABALHO

                                  OFICINA DO  CHICO  
                                  VIGIADO NO TRABALHO
DOCUMENTO SIGILOSO DO DEOPS À DELEGACIA DE ITANHAÉM. APRESENTAR-SE A CADA DEZ DIAS, "COMO SE TRATA DE TESTEMUNHA PODERÁ SER VÍTIMA DE DE ATENTADO POR PARTE DE ELEMENTOS TERRORISTAS"    
NA ASSENTADA DO DEOPS, O ENDEREÇO TROCADO:  RESIDENTE NA RUA TUTÓIA, 921 , SEDE DA OBAN/DOI/CODI, EM SÃO PAULO, 36º DP DE SÃO PAULO. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SP
           Em Itanhaém, voltei à Oficina. Tive de fazer tratamento, que durou até 1975. Passei por cardiologista, psiquiatra, ortopedista e outros, incluindo tratamento espírita auxiliado por minha filha e minha irmã Doracy, que tornara-se enfermeira-chefe no Hospital São Paulo. As torturas sofridas no DOI-CODI, deixaram-me sequelas na coluna e nas pernas. Passei a usar salto de sapato mais alto no pé esquerdo.
           Voltamos para São Paulo, em 1973. Fui vigiado por anos seguidos, atrás de pistas, que levassem a organizações ou militantes. Evitei  contatos, só depois e pessoalmente participei de atividades políticas. Nesse ano, nasceu minha primeira neta, que recebeu o nome Dáfne, por sugestão do poeta Zeno, primo do camarada Paulo Mendonça, que na época, militava no movimento estudantil pelo PC do B e pretendia filiar-se às forças guerrilheiras do Araguaia.  Chegando a conversar comigo sobre essa sua decisão.
           Recebemos alguns móveis de volta, geladeira e cama. Voltei a trabalhar nas oficinas mecânicas das frotas de Taxi : Transportes Urbanos Taxitur e depois, Patrício Taxis, no bairro do Ipiranga.   
TAXITUR E PATRÍCIO TAXI. FONTE: ARQUIVO PARTICULAR
RECIPROCIDADE ENTRE PATRÕES E O DOI CODI
      Os donos dessas empresas eram da família Sayeg, de origem libanesa. Tinha  relações financeiras com o DOI-CODI e Ustra, que por sua vez, devolvia a reciprocidade, auxiliando-o em liberações de documentos da prefeitura e do Estado, para  manter o seu funcionamento legal. Depois desligaram-se.
SEBASTIÃO CURIÓ BUSCA INFORMAÇÕES NO DOI-CODI
         Ainda em 1973, fui conduzido ao DOI e lá interrogado por um oficial, que viera do Pará. Era o "capitão" Sebastião Curió. Queria informações sobre Xambioá e a região. Também quis me submeter à choques e "pau de arara", o que foi impedido pelos agentes do DOI, afirmando que eu fora liberado depois de ter prestado depoimento durante meses seguidos. Que eu tinha saído por ordens do Alto Comando do Exército e aguardava decisão da Justiça Militar. Irritado com a decisão, Curió se retirou afirmando, que com a "proteção", que davam aos subversivos,  não era possível "trabalhar"...
          No fim de 1977, fui morar em Porto Alegre, onde vi Ustra pela última vez. Abaixou-se dentro seu Opala, escondendo-se.
                    PERSEGUIDO ATÉ ANISTIA
          Fui perseguido até a  Anistia, seguido e observado, chamado a assinar presença no livro, que o DOI CODI mantinha para controle de endereços, locais de moradia e trabalho. Em todos os locais de trabalho eram colocados homens do DOI ou sob controle deles. Assim foi em Itanhaém, São Paulo e Porto Alegre.
 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

STM 1972 - TRIBUNAL DE EXCEÇÃO

                  DEOPS 
    STM 1972 - TRIBUNAL DE EXCEÇÃO
 
PROCESSOS DA ALA VERMELHA :  TODAS AS PENAS INICIAIS FORAM ALTERADAS OU REVOGADAS. FONTE: ARQUIVOS DIGITAIS DA INTERNET
          Cercado por agentes do DOI CODI, fui levado ao prédio do DEOPS onde prestei um rápido depoimento de menos de 20 minutos, sob a supervisão dos militares. Em seguida, trazido de volta à sede do DOI-CODI.
           Não fui entregue à polícia de nenhum estado, nem em SP. Fiquei sempre sob custódia do Exército, em todos os lugares em que estive.
          Depois duas vezes à Auditoria Militar onde fui depoente nos processos da Ala Vermelha e de Tarzan de Castro. Os processos da Ala de 69 e 71, foram unificados mas separados do processo de Tarzan e de sua companheira uruguaia, Cristina Uslenghi, que foi expulsa do Brasil.
         Depois todas as penas dos ali condenados, foram alteradas ou revogadas. A maior foi a de Élio Cabral, que já estava indiciado antes de ser capturado. Nossa luta tinha de centrar em sua defesa.
                  DEFESA DA ALA VERMELHA                                        NA AUDITORIA MILITAR
                                                                                              
DEPOIMENTO SEPARADO, ENCAMINHADO AO JUIZ DA 2ª AUDITORIA ASSINADO PELO DELEGADO-TORTURADOR EDSEL MAGNOTTI , O "ESPECIALISTA" DO DEOPS EM DEPOIMENTOS FORJADOS.
 
INCLUÍDO NO PROCESSO E ASSINADO PELOS MEMBROS DA ALA VERMELHA                                          PRESENTES NA AUDIÊNCIA                                                            
          O Dr. Hélio Navarro falou pelos onze advogados, que estavam presentes. Entres esses, estavam Raimundo Pascoal Barbosa, José Carlos Dias, Rosa Cardoso e mais sete, cujos nomes não sei. A audiência durou oito horas, de manhã até às 17hs.
          Meu depoimento foi trocado por "Roberto" por ordem do comandante do DOI- CODI, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Fui retirado do processo. Citaram-me como testemunha-informante no processo da Ala e testemunha-numerária no processo de Tarzan. Élio como testemunha-informante. Não havia acusações contra mim. Tive de reconhecer Diniz,  Élio e Ney Jansen dentre cada sete, que faziam levantar. Foi ridículo, pois todos nós já estávamos ali , todos devidamente identificados. 
                                           
CAPITÃO ANDRÉ LEITE PEREIRA FILHO,CHEFE DO INTERROGATÓRIO E ARQUIVO DO DOI-CODI,  A PARTIR DE 1972, PASSOU A USAR O CODINOME "DR. EDGAR".         ERA O INFORMANTE DO JUIZ-AUDITOR NELSON GUIMARÃES MACHADO                                  
                                              CONDICIONAL  
 
DOCUMENTO ASSINADO  PELO COMANDANTE DO DOI -CODI. FOI FORNECIDO AO ME LIBERAREM DE LÁ PARA APRESENTAR CASO FOSSE PRESO POR OUTROS POLICIAIS DO DEOPS OU MILITARES. ME MANTINHA "SOB TUTELA" DO EXÉRCITO. 
          Ao ser liberado em 05 de Novembro de 1971, fui para Itanhaém no Litoral Sul de SP, onde viviam minha companheira Juracy e meus filhos.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

OS TORTURADORES

                                  DOI - CODI
                    OS TORTURADORES
A SEDE DO DOI-CODI FICAVA NOS FUNDOS DA 36º DELEGACIA DE SP. NA RUA TUTÓIA COM A TOMAZ CARVALHAL
          1971 - O Comando: era o major de artilharia e depois cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra - Dr. "Tibiriçá Correia ou Dr. Silva" ; sub-comandante: Dalmo Lúcio Moniz Cirilo -"Dr. Lúcio". Oficiais do dia , Ênio Borges, Capitão Faria, Orestes e Fabrício.
          Capitães: Benoni Arruda Albernaz(Artilharia); Maurício, Faria, André, Enio Borges Silveira,Muganini -"Dr. José", Orestes, Tomaz, Flávio (capitão de cavalaria),Pedro Mira Grancieri -"Ramiro", Longras("Negrão"), Americano, Amites, que penso ser o professor "Zanith", Homero César Machado. Também o Major Fabricio de Matos Beltrão, que viajava sempre entre Brasília, RJ e BH , não sei se foi o mesmo Fabrício comandante da PE. Penso que era do SNI.
           Delegados: Renato D'Andreia, Vilela, Edvaldo Rodrigues Monteiro, David Araújo dos Santos (também usou o codinome "Mangabeira") , Aldo ("Rabanete") que me prendeu. Que participavam dos interrogatórios: "Dr. Tomé", Oberdan, "Formiga", Ênio, Monteiro, Edvaldo, Faria, Mugnaini ("Dr. José"), Dirceu Gravina "JC", sargento Rima, "Dr. Ney", Albernaz, Carlão, Henning Boilesen, Dulcídio Vanderlei Boschila e outros, que não identifiquei. 
          No arquivo: capitão Maurício, depois capitão André leite Pereira Filho,também fez parte o sargento Rima.
                                
DE CIMA DA ESQUERDA PARA À DIREITA : COMANDANTES E INTEGRANTES DAS EQUIPES DE TORTURADORES DO DOI-CODI EM 1971 
            Os carcereiros: "Risadinha", Pedro,"Marechal", Roberto,"Rosinha" e Casarini. Soldados guardavam o pátio e auxiliavam os carcereiros, o PM, "Walter" -  Gabriel e Diniz outros, que não me lembro o nome. "Gabriel" esteve todo o tempo, que passei lá e era do Batalhão de Campinas. Tinha bom relacionamento com os presos. Os carcereiros, quando se recusavam a auxiliar os torturadores, eram ameaçados pelos mesmos.
           Enfermeiros: eram  sargentos do Exército, "Índio" e "Dr. Martelo",  ás vezes substituídos por "Peter ou Pif" ou por "Rosinha". Os que fizeram curativos em mim foram o "Índio e o Martelo". 
          As equipes eram remanejadas para que os presos não identificassem seus componentes. Trocavam seus homens depois de certo tempo. Chamavam-nas de equipe A-B e C, de captura e de interrogatórios. Quando estive lá o capitão Albernaz e Maurício entraram em atrito com o comando e saíram "presos" para a PE. O mesmo ocorreu com o "Dr." David, que também foi afastado. Disseram, que excedeu-se nas torturas sem ordens do comando. 
           No  31 de Março de 1971, como "comemoração" passaram a norte torturando alguns presos numa festa macabra. No dia seguinte,apresentavam marcas pelo corpo, o que motivou a recusa de algum chefe de equipe em proceder o interrogatório alegando faltas de condições físicas e psicológicas dos presos para serem interrogados. O capitães Albernaz e Maurício também se envolveram em transações ilícitas fora do DOI, de falsificação de dólares e contrabando.
                      OS PATROCINADORES 
ALGUMAS EMPRESAS E AGÊNCIAS DE INFORMAÇÃO QUE TREINARAM E                                           FINANCIARAM A TORTURA NO BRASIL.                                                                                                                                                                             
                           TORTURAS
            Psicológicas e físicas de toda ordem. Ameaças e xingamentos constantes e de todo tipo. Choques elétricos, pau de arara, afogamentos, espancamentos com paus, cassetetes, socos e pontapés. 
            Os choques eram aplicados ora com ligação nos dedos dos pés e da mão, depois nas orelhas, nos lábios, na língua, no ânus,no pênis. O preso ficava amarrado horas na cadeira do dragão. levando choques  constantes. Jogavam água salgada para aumentar os choques. Eram aplicadas no preso só com com os torturadores. Só reuniam dois ou três da mesma organização para pô-los em contradição e torturá-los para que as informações se combinassem.
           As torturas eram comandadas. A equipe de interrogatório é que orientava, quando devia continuar ou suspender. Havia um chefe de equipe e quatro auxiliares.
                      MENTIRAS & VERSÕES 
             Notícias dadas como a de que algum preso "morreu ao ir ao "ponto de rua", onde iria encontrar outro companheiro com quem ele teria contato e lá chegando investira contra um dos homens da equipe, tomou sua arma com a qual se suicidou..." Versões assim aconteceram várias na época. Ou que "tentaram fugir e ficaram entre o fogo cruzado e morreram" ou então, morreu atropelado ao tentar fugir. Nenhuma dessas versões eram verdadeiras. Eram forjadas nos gabinetes e dadas à imprensa para que publicassem. Para cada crime cometido forjavam várias versões, todas mentirosas para ocultar o fato dos assassinatos e torturas.
A SEITA TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE, INTEGRANTES DO COMANDO DE CAÇA AOS COMUNISTAS E OUTRAS ORGANIZAÇÕES CONSERVADORAS E RELIGIOSAS DAVAM APOIO E SUSTENTAÇÃO "MORAL" AO DOI CODI
            A ameaça de que eu seria o próximo, sempre me era repetida, quando saía a notícia de morte de alguém que era encontrado ou estivera no DEOPS ou no DOI-CODI. Era comum entre os homens do interrogatório esse procedimento, faziam comentários e ficavam opinando quem seria o próximo. Diziam que "puxavam o gatilho, mas que só Deus é quem mata". Fui interrogado por uns 90 dias, depois permaneci detido e a partir de Março podia receber aos domingos, visitas de familiares. Iam minha irmã Doracy, que era enfermeira, minha companheira Juracy e meus filhos Anya e Thaelman, Minha companheira e filhos foram interrogados e ameaçados também. Passei por dezenas de acareações, achavam que eu devia conhecer toda a esquerda e também ser conhecido de todos. Eram ridículas as encenações que faziam. Outras eram formais e rápidas.
            A outra justificativa para os crimes é que eles representavam a lei , o governo, eram agentes do poder constituído e nós, os subversivos, os fora-da-lei. Agiam sempre em grupo para pessoalmente não serem culpados por nada por que fizessem, embora  aparentemente fosse tudo, planejado, dirigido e programado. 
           Havia certa competição entre o DOI-CODI e o DEOPS comandado por Fleury, tanto nas torturas como nas execuções. Fleury  representava o poder do Estado de SP, de seu governo; o DOI-CODI, o governo federal, o exército e com ligação com o Planalto. 
           Generais do Exército, políticos, os governadores Abreu Sodré e Laudo Natel de São Paulo e os presidentes da república Médici e Geisel, sabiam o que acontecia nos porões da Rua Tutóia com a Tomaz Carvalhal. Tudo isso ocorreu sob o governo deles.
E-mail: clandestinoedgard@gmail.com

sábado, 18 de agosto de 2012

MEUS CONTATOS E PONTOS PARA O FIM DE JANEIRO E FEVEREIRO DE 1971

                  ANOTAÇÕES DE CONTATOS E PONTO
MEUS CONTATOS E PONTOS PARA O FIM DE JANEIRO E FEVEREIRO DE 1971
           Honestino Guimarães, não ocorreu, nem ele caiu nesse local nem nessa data.No NE com padres da igreja, através de "Cabra". "Rodrigo" do RJ. Não caiu.Nobue Ishii, que estava em Mongaguá com minha companheira e filhos."Márcio" do RJ, estava em São Paulo e tínhamos ponto para o dia seguinte de minha prisão.Tarzan, tinha ponto na praça  próxima do Viaduto Alcântara Machado. Não caiu mesmo estando em São Paulo e passando no local. Beatriz Forjaz ("Sonia") tinha ponto comigo para semana seguinte a queda. Não caiu. A irmã de Timóteo e ele próprio. Delmar ("Galo"), foi avisado por mim um dia antes de minha queda, 16/01/1971, que tomasse medidas, porque corria perigo. Antonio Granado também avisado, já tinha saído e retornou ao apartamento, quando foi detido. Companheiros do RGS, já estavam presos, quando eu e Élio caímos.
                                    FEVEREIRO DE 1971/VITÓRIA/ES
                       CARTA : MRM-MRT
DOCUMENTO DE APREENSÃO DA CARTA INTERCEPTADA POR "JOSÉ FERNANDO DOS SANTOS". FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SP
         Foram localizados pela carta interceptada pelo DOI-CODI no correio. Enviada para "Paulo Armando Duarte", documento apreendido em minha casa na Rua Aguapeí. Lá capturaram sete pessoas e através deles o grupo de MG.
           Não capturaram ninguém em Cuiabá, Cáceres, Colônia Rio Branco ou em Rondonópolis em decorrência de minha queda. Tínhamos companheiros em todos esses locais. Eu sabia, que Jonas estava em Fátima de Sul. Nada disse e não foi encontrado lá.
             OS COMPANHEIROS DE PRISÃO
                      -OBAN-DOI-CODI/1971
   
GRADES DE PRESOS DA OBAN DE JANEIRO E FEVEREIRO DE 1971
            Élio Cabral de Souza capturados e torturados juntos por dias seguidos. Outros torturados comigo Milton Oliveira , Antonio Carlos Lopes Granado, Felipe José Lindoso, Paulo de Tarso Gianinni.
            Presos e torturados : Ivan Seixas Alencar, Fernando Sana Pinto, Professor Nélson, Paulo de Tarso Vanuchi , os Drs.: Décio Noronha, Artur Wolf, Bruno Mendonça Costa de Porto Alegre, Carlos Regis Bastos Rampazo, Bitar. 
             O vice-reitor da USP e sua esposa , profa. de farmácia; Percival Maricato da UCE, Luiz Antonio, estudante de BH; Pe. Alípio de Freitas, Neiva Moreira, José Macedo, Flávio Ribeiro, o jornalista Marcos Faerman, Vergati, o filho do gal. Dantas Rodrigues, Altino Dantas e Lenira Machado; Antonio André Camargo Guerra; Milton Campos; Zé Maria; Jaime Almeida; Diógenes Sobrosa; Lucena, Armando Gutierrez, autor do livro Sierra Maestra.
             Nadir Helou, Waldemar Andreu; Letácio Barbosa; Paulo de Tarso Venceslau; Aristides, Jair, Arduíno,Amorim, de Vitória; Mestre Almir (tinha Academia de Capoeira na Barra Funda em São Paulo); Antonio Duarte dos Santos, fuzileiro naval; o libanês Antonio Makloud, que tinha uma padaria na rua Tobias Aguiar; Halstown da fábrica de Doce Descalvado; "Fumaça"  da VPR, Tadeu preso em Brasília e trazido para São Paulo; Luis Eduardo Ponte (Renê). O judeu Samuel, Odinho,"Ministro" e Angélica do POC.
             Raul Kroeff Machado Carrion; Hector Camileti (argentino), Ernesto Casanova, Guido Souza Rocha, Elói Martins da Silva, Érico Vanucci Mendes, Luis Wenstock.Márcia Yagunovich Mafra, Creuzer Barros, Rita e várias outras mulheres cujos nomes, não sei.
                   PRESOS QUE MORRERAM                                   ASSASSINADOS NAS TORTURAS:
              O jornalista Luis Eduardo Rocha Merlino, de Santos, o sindicalista Aloísio Palhano, José Raimundo Costa e Joaquim Santos Seixas, pai do Ivan. Também estiveram presas sua esposa , duas filhas moças e um menino.
                                                                                                          
               GRADE DE PRESOS DO DOI CODI DE 30 DE JUNHO DE 1971
            Os presos eram isolados uns dos outros e não era permitido conversarmos entre nós, embora rompêssemos muitas vezes, quando podíamos essa ordem.
 

sábado, 11 de agosto de 2012

'DAQUI SÓ HÁ DUAS SAÍDAS: OU PARA LIBERDADE OU PARA O PARAÍSO..."


"PONTO E CONTATO"
     "DAQUI SÓ HÁ DUAS SAÍDAS : OU PARA LIBERDADE OU PARA O PARAÍSO"...
              No início, os interrogatórios se dirigiam à esse objetivo : Queriam saber "pontos", horários de encontro - inclusive os que não existiam e eu não os tinha - queriam "ponto" com "Henrique". Eu nem sabia, que Devanir usava esse codinome. Queriam saber da Nobue Ishii - Nina ou Marta - Queriam a ligação com o Rio de Janeiro. Os nomes das pessoas de Porto Alegre e Santa Maria.Queriam saber onde estavam minha companheira, meus filhos, que sabiam ser um casal.
              Ameaçavam prender meu pai, octogenário.
              Intercederam por mim no comando do II Exército: o cel. Gualter Ferreira, que já me conhecia do Mato Grosso e meu cunhado, sargento da PM - Teizen, que chegou a ir à sede do DOI CODI, a meu chamado acompanhando minha irmã caçula Shirley. Consegui, que lhe enviassem uma carta para que minha companheira e meus filhos se apresentassem lá. O que ocorreu mais ou menos um mês depois e de outra forma.
              Suspenderam as torturas físicas em mim, mas fui mantido ali. Me levaram até o Mato Grosso, em Cáceres, dizendo que iriam prender um companheiro que estivera comigo na China em 1966. Paramos no quartel em Campo Grande. Fomos até Fátima do Sul, onde segundo eles se encontravam o companheiro procurado. Não encontraram ninguém. Voltamos à Campo Grande onde me deixaram, enquanto foram à Dourados onde prenderam cinco pessoas, que eu não os conhecia e deixaram-nas, no quartel de Campo Grande.
 
CARTA INTERCEPTADA NO CORREIO PELOS AGENTES DO DOI CODI ENVIADA DE                     VITÓRIA À SÃO PAULO PARA A DIREÇÃO DA ALA VERMELHA
                   CARTA INTERCEPTADA
                 No fim de Março de 1971, um companheiro de Vitória, escreveu uma carta para mim, que foi interceptada pelos agentes do DOI -CODI. Essa carta deu à eles informações sobre o pessoal de Vitória. Fui acareado com Amorim, o autor da carta. Levaram-me à Vitória no Espírito Santo. Me deixaram preso no quartel de Vila Velha. Lá prenderam sete companheiros e os trouxeram ao DOI-CODI de São Paulo.
               Através do grupo de Vitória foi feita a ligação com o MRM - Movimento Revolucionário Marxista - dirigido por Fernando Sana Pinto, que estava atuando com o grupo de Devanir Carvalho. Dessa sequência de quedas, chegaram até o MRT - Movimento Revolucionário Tiradentes - montando a emboscada para a qual atraíram Devanir, onde ele acabou sendo assassinado pela equipe do DEOPS de Fleury, em São Paulo.                                          
          VIGILÂNCIA NA ALTA ARARAQUARENSE 
               Desde a prisão de Tarzan de Castro em 1966, a região de São José do Rio Preto e Votuporanga,  ficou sob vigilância constante dos agentes do DEOPS, DOI CODI e com a polícia local colaborando. Em uma correlação de forças desiguais. Waldemar Andreu já vinha sendo perseguido por manter ligações com Dimas e Dênis Casemiro, que fizeram parte da Ala Vermelha e passaram para o MRT. 
              Já  fazia pelo menos um ano, que eu não tinha contato com Waldemar Andreu, nem com Devanir Carvalho. Sabia da ações do MRT pelos jornais e a última vez nos vimos, foi no início de 1970 em um ponto de rua. Na mesma época, o mesmo com o Raimundo Gonçalves "Mauro", no RJ, a última vez, que nos encontramos.
            
DESTAQUES DO DEPOIMENTO DE   EDGARD DE ALMEIDA MARTINS                                   NO INTERROGATÓRIO DE 31/01/1971, NO DOI-CODI/SP:
 
                Ao ser detido e sofrendo os suplícios impingidos aos presos nos interrogatórios do DOI-CODI, não passei nenhuma informação, que levasse os agentes da repressão até meus companheiros.Nada disse, que eles já não soubessem.
                Quando na tortura vi explodir a úlcera de Élio e o sangue jorrando, foi eu, quem negociei diretamente com o comando do DOI-CODI, a entrega de parte dos dólares, que havíamos recebidos de companheiros da VAR-PALMARES e estava com a Ala Vermelha.Uma parte estava "aplicada" em uma agência de turismo  - Transiter - no centro de São Paulo. Foi apreendida pelos agentes do DOI-CODI,  que ficaram com eles. Outra parte, estava com minha companheira e Nobue Ishii, que  deve  ter os utilizado para sair do país. Assim, nenhum dos dirigentes da Ala Vermelha foi morto no DOI-CODI. Como em um assalto : Era "a bolsa" ou a vida...
                   Eu tinha "pontos" marcados" com Tarzan de Castro em São Paulo - foi preso um mês depois de mim, em Recife - com alguns padres do nordeste, através de Gerôncio Albuquerque - não foi preso - e com Honestino Guimarães, que só foi capturado em 1973, quando eu já tinha sido liberado do DOI-CODI.
                  "LIBERDADE OU PARAÍSO..."
          Nos  intermináveis interrogatórios, afirmavam, que eu não sairia vivo ao final do "tratamento" que me aplicariam.
               Concentravam-se numa organização para desmantelar sua estrutura, buscando atingir seu núcleo dirigente, eliminado-o com prisões, torturas e assassinatos.
               Foi o que fizeram com todas organizações, que lutavam com os trabalhadores pela democracia e pelo socialismo.
              Não fui entregue à polícia de nenhum estado, nem em São Paulo, como os outros companheiros. Fiquei sempre sob custódia do Exército, em todos os locais que estive.
              Os torturadores do DOI-CODI, me diziam apontando para os bairros com os respectivos nomes: - Daqui - Rua Tutóia- só há duas saídas: para a Liberdade ou para o Paraíso.
                                                                                                                                        

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

NO DOI CODI : A TORTURA

NA OBAN - JANEIRO DE 1971    
                                                A TORTURA   
                  Ao chegarmos à  sede da OBAN, eu e o Élio, ouvimos uma gritaria e empurravam-nos  por um - corredor polonês - de socos e pontapés.
          Entrando no prédio, nos colocaram as pontas dos fios da maquininha de choque nos ouvido    e começaram dando choques. Junto vinham espancamentos, com cassetetes, palmatórias e pauladas. Alguns que conheciam karatê, como o Albernaz, nos desferiram golpes nas costas e no peito. Usavam os punhos - soco inglês - instrumento de ferro que se encaixa nos dedos das mãos como anéis - e tudo o que se possa imaginar de xingamentos e ofensas.
                Horas no pau -de-arara com mãos e punhos amarrados aos pés , com a coluna curvada, até não suportar mais a dor. 
                             O DELEGADO FLEURY  DO DEOPS FOI À OBAN
                                      FLEURY NA OBAN
              Vinte minutos depois de chegar na OBAN - Operação Bandeirante - que ficava na Rua Tutóia com a Rua Tomaz Carvalhal, nos fundos da 96º Delegacia do Estado de São Paulo, chegou o delegado Sérgio Paranhos Fleury, do DEOPS, que me fez algumas perguntas:- Por que eu guardava os jornais que falavam dele e do Esquadrão da Morte. Era uma série de reportagens publicada na imprensa escrita e que eu vinha lendo com interesse e recortando dos jornais onde o procurador Hélio Bicudo, o denunciava por seus crimes.
               Na OBAN, me deixaram, sem cortar a barba e de cabelos compridos. Quando viajei para o Mato Grosso e Vitória, correu o boato que eu tinha desaparecido. Na época, muitos presos procurados apareciam depois em notícias, que tinham sido – atropelados - outros mortos em – "tiroteios" - ou então  - "suicidados". Tudo secreta e - um tanto misteriosamente...
               Alguns dias depois, fui levado a um "ponto", numa rua, para encontro com alguém que eu nem sabia quem era. Não conseguiram trocar minha camisa, que havia grudado nas cicatrizes das minhas costas e que ao tentarem retirá-la, o sangue escorria pelos ferimentos. Cortaram a camisa e deixaram os pedaços grudados na pele sobre as feridas. Levamos choques no pênis, no ânus, na boca, nas orelhas, nos dedos dos pés e das mãos.
                                                   A REPRESSÃO ATUANDO NO TERRITÓRIO LIVRE
             TRÊS  DIAS INTEIROS NO CAMPUS DA USP
            Levaram-me ao campus da USP, onde eu deveria ficar nas portas das faculdades. Os agentes estacionavam seus carros próximos e armados observavam se alguém me cumprimentava. Passei uns três dias  assim. Ninguém foi preso nesses "pontos". Amarravam um fio que ia da ponta do pênis e em  torno da bolsa escrotal, descendo pela perna até o dedo do pé para eu não sair correndo e fugir
               Eu tinha pontos marcados com o "Márcio" do Rio; com Tarzan, em São Paulo, mas que estava em Recife; com padres do Nordeste, através de "Cabra", o geólogo Gerôncio Albuquerque Rocha e com Honestino Guimarães, em São Paulo. Desses somente o Tarzan  foi  preso um mês depois em Recife, mas não no ponto que havia marcado comigo.         
                Resistimos por algum tempo sem falar nada. Talvez por dois ou três dias.    
               Com a pancadaria e a violência vinham as perguntas: - Qual é o ponto ? Onde está fulano ?  Que horas você vai encontrar com seu  camarada ? Onde  é o endereço ? Quem é fulano ? É comunista ? Repetidamente. Entremeando as perguntas vinham palavrões, gritos e pancadas. Esbofeteavam, cuspiam, chutavam  nas canelas, nos joelhos. Perguntavam-nos da - Nobue "Nina", da minha mulher e meus filhos - onde estavam ? Queriam saber do dinheiro da organização.
           Durante um dos interrogatórios, em que me perguntaram se eu era comunista, respondi: - Sim, eu sou comunista. Então o Albernaz,  me deu um violento golpe de karatê, e ao cair para trás, caí em cima de uma mesa de escritório, envergando a coluna dolorosamente, quebrando duas costelas, que me deixaram sequelas para o resto da vida .
                                                               CHOQUES EM TODO CORPO
                       NA CADEIRA DO DRAGÃO 
A CADEIRA DO DRAGÃO FOI MONTADA NO GABINETE DE ARTES E OFÍCIOS  DE SP E TRANSPORTADA PARA A SEDE DA OBAN. FOI UTILIZADA EM TORTURAS À PRESOS POLÍTICOS DA DITADURA. ERA UMA POLTRONA FORRADA COM METAL PARA ESPALHAR OS EFEITOS DOS CHOQUES POR TODO CORPO DO PRESO, QUE TINHA OS PÉS, AS PERNAS E OS BRAÇOS AMARRADOS AOS SEUS APOIOS. 
               Ás vezes estávamos com os braços amarrados atrás das costas, outras vezes na cadeira do dragão, uma poltrona com aço e metal condutor de eletricidade em seus braços, onde os pulsos ficavam presos e as pernas amarradas aos pés da mesma, por horas. Ao nos colocar na poltrona, para atar os pulsos e as pernas eram enrolados panos de flanela ou de lã, para evitar que os  ferimentos deixassem marcas. Levávamos choques a cada meia hora ou quinze minutos. Jogavam água para aumentar a potência dos choques. Amarravam em dois, sentados, nus, um sobre o outro. Ao tomar os choques o torturado estremecia todo o corpo em um estertor terrível. E, ao estremecer o corpo, feria os pulsos e as pernas. Era impossível evitar isso. Os ferimentos me deixaram os ossos expostos nas pernas e nos pulsos. Seguiam depois  com o pau-de-arara, acompanhado de pancadas e mais choques.
               Nos dias seguintes a nossa chegada, vimos o companheiro"Messias", que mal parava em pé, totalmente sem equilíbrio. Depois precisou de cadeiras de rodas e quando seu pai, que era senador eleito naquele mesmo ano, da ARENA, a Aliança Renovadora Nacional do Amazonas, quis visitá-lo, o maquiaram para ocultar hematomas e marcas da tortura, obrigaram-no a permanecer  sentado e que não se levantasse, para que seu pai não notasse o estado de suas pernas.
               Após ter ido para o DEOPS "Messias"  voltou para OBAN/DOI/CODI sempre ameaçado pelo torturador Dirceu Gravina, o famoso “JC - Jesus Cristo” , que queria obrigar-me a dar choques nele. Como me recusei, JC desferiu-me quarenta  pauladas em cada joelho. Enquanto JC desferia os golpes, - Risadinha - ecoava estridente gargalhada durante essa sessão de tortura. "Messias" assistiu a essa cena.
               De outra vez, puseram-me  junto com o "Paco" amarraram-nos na  cadeira do dragão com ele sentado em meu colo. Ligaram a máquina, dando choques em nós dois ao mesmo tempo. Caímos para a frente junto com a cadeira, fiquei com um  " galo" na testa por vários dias. E ele também se machucou muito. Os torturadores riam, mas desta vez foram chamados a atenção, porque eu deveria sair à rua e as marcas atrapalhavam, na opinião dos chefes das torturas.
            DIALOGO COM O COMANDANTE DOS TORTURADORES BRILHANTE USTRA
...E A CONVENÇÃO DE GENEBRA ,
COMANDANTE TIBIRIÇÁ ?
               No terceiro ou quarto dia, após minha prisão, fui levado à uma sala onde estavam vários soldados com metralhadoras apontadas para mim e então apareceu o Major Carlos Alberto Brilhante Ustra, que se apresentou como - Dr. Tibiriçá Correia - chefe da Operação Bandeirantes, que depois passou à DOI-CODI. Ele entrou, me cumprimentou e disse que nós tínhamos perdido e que para mim a guerra estava encerrada. Também disse:- Você deve se render e reconhecer a situação. E, que só queria saber uma coisa, se eu conhecia o Tarzan de Castro e se ele estava no Brasil ?
                  Argumentei que na guerra os vencidos e os prisioneiros devem ser tratados com respeito e não com humilhações e torturas, segundo a Convenção de Genebra, da qual o Brasil é signatário.
          Ele imediatamente me mandou  de volta para o xadrez e tudo voltou ao tratamento anterior, com mais pancadarias, intercalando com choques, cadeira de dragão, pau-de-arara, etc.            
               Barros, sequestrada com Giannini , tinha o pé enfaixado e só andava apoiada em alguém. Quebraram e aplicaram uma injeção com ácido no pé dela. Giannini,  pouco melhor, mas com as marcas dos maus tratos e das torturas comuns nos interrogatórios das primeiras horas, quando pretendiam alcançar toda a organização e sua direção.
                                                   PENTOTAL : O SORO DA VERDADE
 NA SALA DE TORTURAS : "A SESSÃO  ESPECIAL"
               Prometiam aplicar a pentotal - soro da verdade - no Élio e em mim. Garantiam que não sairíamos vivo dali ao final do tratamento que nos aplicariam. Os repressores se concentravam em uma organização para desmantelar sua estrutura e principalmente atingir seu núcleo dirigente, eliminá-los com prisões, torturas e também com assassinatos. E foi o que fizeram com todas as organizações: ALN, VPR,VAR-PALMARES, AP, ALA VERMELHA, PC do B, PCBR, PCR, POLOP, POC, MR-8, MRT,  REDE, MRM, GRUPO DO GAÚCHO, MOLIPO, GRUPO PRIMAVERA, PC do B e depois o velho PARTIDÃO. Todos tiveram gente presa, torturada e muitos mortos depois de presos. Nessa constelação de siglas da esquerda, a Ala Vermelha foi a que tendo optado e defendido a luta armada, conseguiu manter viva a maioria dos militantes, que não a deixaram por outras organizações. Tivemos muitas prisões, porque confrontávamos a ditadura com nossas ações e publicações.
            Depois de muitos dias seguidos desse tratamento, levaram-me com Élio ao que parecia ser a nossa despedida definitiva. Nos colocaram na sala de tortura, no  pau-de-arara. Ligaram um aparelho na tomada e estenderam de lá um fio até os nossos corpos e com a outra ponta percorriam os pontos onde iam aplicando os choques. Um outro torturador com a máquina, aplicava o choque em outros locais, de modo que nos forçavam um a dobrar o corpo para frente e o outro para trás. A gente se envergava ao extremo da capacidade corporal, às vezes até estalar as juntas. O esforço, nas pernas e nos braços presos ao pau-de-arara, era horroroso. Recebíamos duas correntes simultâneas em quatro ligações. A dor causada pelo esforço na coluna era terrível. Nesse dia não resistimos muito tempo.
        As  máquinas tinham voltagens diferentes do aparelho ligado à tomada. O último  podia regular a  voltagem para mais ou para menos. Fiquei sabendo depois que era possível alcançar até 600 volts. Não posso afirmar se isso era verdade. Sendo eu eletricista, diziam que era necessário aumentá-lo e foi o que fizeram,  dizendo que eu resistiria mais.
               O Élio tinha uma úlcera de estomago, que estourou, e começou a expelir sangue pelo nariz e pela boca. Foi levado às pressas para o  Hospital do  Exército e depois foi para as Clínicas. Pensei que ele estivesse morto, ficou entre a vida e a morte por uns quarenta dias, quando saiu de lá. Voltou para o DOI-CODI , mas não nos vimos mais. De lá foi enviado para o DEOPS e depois para o presídio Tiradentes. Sei que depois de anos foi libertado e voltou a morar em Goiânia. Não mais o vi.
               Tive um desmaio e fiquei com a metade do corpo paralisado temporariamente. O braço  esquerdo e as pernas ficaram sem movimentos por certo tempo. Quando abri os olhos e  recobrei a consciência, voltando aos sentidos, ouvi a voz do Major Ustra gritando sem parar: - O Edgard  não pode morrer, o Edgard não pode morrer. Com nossas prisões, diziam, ele ganhou a patente de coronel do exército, hoje reformado.  
               A sala estava cheia de gente. O "médico" que me aplicou a injeção, ainda segurava a seringa na mão. Em seguida massageou meu peito, o coração, depois mediu a pressão e ficou observando. Enfermeiros massageavam o braço e a perna esquerda. Outros colocavam bolsas de água quente no braço, na perna, iam mudando de lugar e trocando quando esfriava. O médico tinha traços de japonês, não afirmo com certeza, mas provavelmente era Harry Shibata, do Instituto Médico Legal de São Paulo. Gritavam para que eu esticasse a perna, abrisse a mão e estirasse o braço esquerdo, que havia encolhido no momento em que aplicaram a descarga elétrica.
                                                                       NA SOLITÁRIA
            COM   DIÓGENES SOBROSA NA SOLITÁRIA
               Quando melhorei, fui carregado para a solitária. Fiquei durante uma semana ali com Diógenes Sobrosa, da VPR, que tinha sido preso no Vale da Ribeira. Ele tentava colocar suco de laranja na minha boca e também me alimentar. Estava seguindo ordens do médico e dos enfermeiros, que eram fiscalizados pelo carcereiro e por guardas da PM, que ficavam no pátio vinte e quatro horas, vigiando.
               Sobrosa me contou um pouco de sua história. A prisão no Vale do Ribeira onde esteve com outros camaradas. Foi condenado junto com Lamarca, Fujimori e Lucena, filho de Antonio Lucena, que morreu assassinado pela repressão no interior de São Paulo. Sobrosa e Lucena chegaram a ser condenados à morte, pena depois modificada através de recurso de defesa. Os dois foram, dos presos, os mais torturados na OBAN/DOI-CODI. Se é que pode se dizer assim... Me refiro, aqui, aos que saíram vivos de  lá.
               O enfermeiro vinha todos os dias me ver e em alguns mais de uma vez, me dava remédios e fazia massagens. Recuperei o movimento da perna, pude me levantar e voltar a andar após esse tempo. O braço levou mais tempo para normalizar.
             Link para trailer do filme : RETRATO 3X4 DE UM TEMPO  dirigido  por Ângelo Lima,  que traz trecho de um depoimento de Élio Cabral de Souza, capturado e torturado pelo DOI CODI,  com Edgard de Almeida Martins: http://youtu.be/iZxUB-0ewGE