A CAMPANHA PELA PAZ E UM CASAMENTO COMUNISTA

PRÓ-PAZ

                            A  CAMPANHA PELA PAZ    

                   Atos públicos organizados pela Associação Feminina com a presença massiva da União da Juventude Comunista aconteceram em sequência. Foram coletadas assinaturas contra a bomba atômica e pela libertação de Elisa Branco , que tinha sido presa em São Paulo, porque abriu uma faixa durante o desfile militar de sete de setembro, com os dizeres :"- Soldados, nossos filhos não irão para a Coréia". Esse simples gesto lhe custou três anos de prisão, mesmo com a campanha nacional por sua libertação espalhada por todo país. Nessa mesma campanha, lutávamos contra a  pena de morte e execução do casal Rosenberg nos EUA.

VOZ DA PAZ DIRIGIDO AO POVO DA ALTA ARARAQUARENSE : "- PORQUE DEVEMOS DEFENDER A PAZ!  É DEVER  DE TODAS A PESSOAS, NÃO IMPORTANDO A RELIGIÃO OU PARTIDO POLÍTICO"! - FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SP. 

PASSEATAS, PALESTRAS E PRISÕES

Uma passeata cruzou a principal avenida  do centro da cidade de São José do Rio Preto. Outros atos aconteceram em Populina no  cinema e em Santa Salete.

A polícia prendeu o camarada Antonio Fernando, levando-o para Rio Preto onde foi espancado durante os interrogatórios. Ficou uns dez dias detido.Foram detidas também as jovens irmãs Juracy e Esmênia Machado Lino, que estiveram em todos os atos pela Paz, na região. Ficaram detidas até serem liberadas por interdição dos advogados Dr. Ismael e Gabriel Cury, que atuaram em defesas delas e dos demais presos políticos para libertá-los.

 

AGENTES DO DEOPS  PERSEGUEM AS MULHERES DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO  NAS MANIFESTAÇÕES PRÓ-PAZ DA ALTA ARARAQUARENSE.FONTE : ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SP 

O PARTIDO, A FAMÍLIA   

CASAMENTO "COMUNISTA"

-"Quando eu o  olhava, tinha a impressão de estar vendo o Partido diante de mim : forte, calmo, bom , inteligente, resoluto". Assim, Jorge Amado descreve como seu personagem João vê outro personagem, José Gonçalo, o "Gonçalão". ("Os Subterrâneos da Liberdade"- III - 256)

Assim eu  também via o "velho" Gonçalo Machado  Lino, desde que o vi pela primeira vez.

 O "VELHO" GONÇALO MACHADO LINO, IMPORTANTE COMUNISTA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO E REGIÃO. NO JORNAL, O PAPA ANUNCIAVA A EXCOMUNGAÇÃO DE TODOS OS COMUNISTAS. NO BRASIL, ESSA POLÍTICA TORNOU-SE LEI : OS PADRES NÃO PODERIAM MAIS BATIZAR ,NEM  REALIZAR  CASAMENTOS DE COMUNISTAS NAS IGREJAS. NEM OS CRISTÃOS LER A LITERATURA MARXISTA. FONTE: Arquivo particular e do arquivo de " O ESTADO  DE SÃO PAULO - ACERVO DIGITAL" 

No final de 1952, eu já era profissional do Partido. Solicitei à direção providências para que pudesse me casar com Juracy Machado Lino,da família Machado Lino do velho Gonçalo, dos mais importantes comunistas de São José do Rio Preto e região. Informaram-me a decisão, que seríamos transferidos para Araçatuba porque sendo eu clandestino e ela legal, não estaríamos em segurança. O casamento foi em Outubro, mês do aniversário da Revolução Russa.

   "CASAMO-NOS SEM A PARTICIPAÇÃO  DE JUIZ E DA IGREJA. OS PADRES ESTAVAM PROIBIDOS POR LEI DE REALIZAREM CASAMENTOS  DE COMUNISTAS. TAMBÉM NÃO NOS IMPORTAMOS". Fotos: Arquivo particular. 

A cerimônia foi realizada sem padre e sem juiz , com a presença da maioria das duas famílias e nossos camaradas convidados, em uma chácara nos arredores da cidade. Chegavam em pequenos grupos e horários diferentes para não levantarem suspeitas da repressão. Ela de vestido branco com uma faixa vermelha como cinto. 

Depois da festa fomos à uma cidade balneária em lua de mel.

JURACY SEGURA EM SEUS BRAÇOS NOSSA PRIMEIRA FILHA, ANYA SELENITA.AO LADO, ZÉZINHO NOSSO VIZINHO EM MIRASSOL. Foto:Arquivo particular. 

Em 30 de setembro de 1953, nasce nossa primeira filha demos-lhe o nome de Anya Selenita, retirado da personagem enfermeira de guerra do romance russo "Dias e Noites".

NA ALTA ARARAQUARENSE: A LUTA DA GUARIROBA

                            ALTA ARARAQUARENSE
                DEPOIS DO LEVANTE, 
                     A RESISTÊNCIA

 FONTE: INSTITUTO CARTOGRÁFICO E GEOGRÁFICO DO ESTADO DE SP  
                A LUTA PELA TERRA NO OESTE DE SP
         A região foi agitada ,pouco antes,  pelo "LEVANTE DE FERNANDÓPOLIS"* , com os camponeses sob a liderança de Antonio Joaquim, -"vereador de Prestes" - na cidade.
                ASSISTÊNCIA À FAMÍLIA                                        DOS PRESOS E PERSEGUIDOS
         Minha tarefa era rearticular o Partido e dar assistência às famílias dos presos e dos perseguidos pela repressão no movimento, quando centenas de camponeses atacaram os inspetores de quarteirões,- os "bate-pau"- em Populina, Guarani D'Oeste e Tanabi. Desarmaram, dominaram-os e em seguida rumaram para Fernandópolis.
                   "GREVE DO CAPIM"
           A LUTA DA GUARIROBA   
          Nestor Vera ("Sebastião") passou a orientar a luta na Guariroba, Fazenda dos Ingleses. Assim, que ele chegou lá saiu a ordem de despejo.Resolvemos que íamos resistir defendendo os camaradas da   resistência contra os despejos, a plantação de capim e os desmandos dos capangas sob as ordens dos ingleses.

O JORNAL "TERRA LIVRE" E PANFLETOS COM MENSAGENS DIRIGIDAS AOS TRABALHADORES FORAM  DISTRIBUÍDOS DESAFIANDO A FORTE REPRESSÃO POLICIAL. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SP. 
            CHICO MINEIRO E O VELHO ISAAC
            Pelo menos sessenta camponeses , tendo à frente o velho Isaac e Chico Mineiro, foram ao escritório administrativo da fazenda para exigir mais prazo para permanecerem nas terras que cultivavam.  Aparentemente,  o gerente cedeu mais dois anos de prazo para eles. Mas em seguida, entrou com um pedido de despejo de Chico Mineiro, identificando-o como o "cabeça" daquele movimento.

 

"INFORMAÇÕES RESERVADAS" - O SERVIÇO SECRETO DO DEOPS COMUNICOU À CENTRAL DO ESTADO, QUE MILITANTES COMUNISTAS REALIZARAM COMÍCIO RELÂMPAGO NA FAZENDA DA GUARIROBA EM 01/02/1950. O COMUNICADO AFIRMAVA:-" PARA ISSO, VALERAM-SE DO PRESTÍGIO DO VELHO CURANDEIRO NAQUELA FAZENDA - O CHICO MINEIRO. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SP.

A LIDA PELA VIDA

Eu já conhecia a vida do interior de SP e da zona rural. Conheci fazendas de café, usinas de açúcar , plantações de algodão e de cereais, mas nunca tinha visto uma população tão pobre e miserável como aquela. Só isso explicava o porquê serem notícias as revoltas camponesas, que aconteceram ali. Para que se  rebelassem  e  decidissem pegar em armas contra seus patrões e  autoridades, foi porque não tinham nenhuma assistência do poder público. 

Que sempre agiu assim : - Aos senhores da terra tudo e todos favores; aos trabalhadores da terra , toda miséria, exploração, humilhação e nenhuma assistência. Nem econômica, nem financeira, nem jurídica, nem nada.

Eram como bichos, que nasciam e cresciam na mata, nas lavouras , nas pastagens. Qualquer boi ou cavalo era melhor assistido,  que aquele povo do mato, completamente abandonado. Porque se o animal morresse dava prejuízo para o proprietário. O caboclo morria, logo nascia outro, que o substituía sem custo nenhum.

 

"TRECHO FINAL DE :"OS ACONTECIMENTOS DE SANTA FÉ DO SUL", PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 25 DA REVISTA BRASILIENSE DE SETEMBRO-OUTUBRO/1959. 

NESTOR VERA FOI PERSEGUIDO,SEQUESTRADO E ASSASSINADO SOB TORTURA POR AGENTES DA  REPRESSÃO,  EM 1975, BH/MG. SEU CORPO NÃO FOI ENCONTRADO ATÉ HOJE. TORNOU-SE, "DESAPARECIDO POLÍTICO" DA DITADURA NO BRASIL.

* Mais informações sobre o "LEVANTE DE FERNANDÓPOLIS" na tese  de doutorado: " FERNANDÓPOLIS - MEMÓRIAS E HISTÓRIAS DOS TRABALHADORES EM LUTA PELA TERRA -1946-1964 - do prof. Vagner José Moreira apresentada na Universidade Federal de Uberlândia em 2009.